sexta-feira, 29 de março de 2024

Oito contradições da “ordem baseada em regras” imperialista


Kyeretwie Opoku, Manuel Bertoldi, Deby Veneziale e Vijay Prashad [*]

Estamos agora entrando em uma fase qualitativamente nova da história mundial. Mudanças globais significativas surgiram nos anos que se seguiram à Grande Crise Financeira de 2008. Isso pode ser visto em uma nova fase do imperialismo e em mudanças explicitadas nessas oito contradições.

1. A contradição entre o imperialismo moribundo e um socialismo emergente bem sucedido liderado pela China.

Crise intratável na República Democrática do Congo

Fontes: El Salto

Repetidas vezes, os intervenientes externos não conseguiram conter a escalada de violência na República Democrática do Congo.


Enquanto o mundo está preocupado com Gaza e a Ucrânia, as guerras no leste da República Democrática do Congo (RDC) estão a entrar na sua quarta e talvez mais perigosa década, arriscando uma grande escalada regional. O conflito, que envolve atualmente uma centena de grupos armados diferentes, matou e deslocou milhões de pessoas ao longo dos anos. Desde 2021, o conflito entrou numa nova fase, marcada pelo ressurgimento de uma organização rebelde conhecida como Movimento 23 de Março (M23). As empresas de segurança privada e os estados vizinhos juntaram-se à briga, enquanto a gama difusa de beligerantes galvanizou-se em torno de duas frentes claras: uma alinhada com o governo congolês e outra com o M23. A situação deteriora-se dia após dia e as perspectivas de paz estão cada vez mais distantes.

Na antessala do horror: lembranças do golpe de 1º de abril


O golpe militar de 1964 instituiu uma ditadura de 21 anos (Foto: Arquivo Nacional)

Roberto Amaral conta em detalhes as horas que precederam o golpe de 1964

Roberto Amaral

Desde 1961, com a derrota imposta pelo povo nas ruas ao golpe militar que intentara impedir a posse de Jango, vivíamos um processo histórico tenso. Hoje, com o distanciamento de tantos anos, diríamos que tenso, mas muito rico, atravessado que foi por uma realidade em construção, povoada por dúvidas e receios, muitos sonhos e muitas esperanças.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Aldo Rabelo enterrou os acontecimentos do verão passado

(Foto: ABR)


Nonato Menezes

Para muitos a Instituição Política é como gelatina, sujeita a cor, forma e sabor variados, a se diferenciarem segundo os humores de quem sorve, manuseia e da capacidade de decodificação de suas retinas.

É o que tem ocorrido entre nós, amiúde nos setores da esquerda. Ainda que eu não considere de esquerda o sujeito que hoje não duvide da descoberta de Erastóstenes, mas amanhã venha a defender que a Terra é plana, seja ou não por conveniência política. Ser de esquerda, afinal, é ser lúcido na defesa de princípios. Princípios que, por si, se sustentem como pilares em defesa da vida, da paz e da liberdade.

Sobre a arrogância dos "povos escolhidos"

brasil247.com/


Do ponto de vista estritamente lógico, é impossível de imaginar um Deus que seja único e absoluto, e que ao mesmo tempo faça escolhas de qualquer tipo que seja. Mas esta ideia da monopolização unilateral da “vontade divina”, por alguns povos, parece ser muito antiga e persistente, sobretudo entre os que professam religiões monoteístas. O exemplo mais conhecido talvez seja o do povo hebreu, como aparece descrito num dos cinco livros de Moises, o Êxodo: “Então Javé chamou a Moisés e lhe disse: agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque a terra é minha. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo, 19). Mas esta mesma convicção pode ser encontrada no Zoroastrismo, e na relação preferencial de Ahura Mazda com o povo persa e com o Império Aquemênida, da Ciro, Dario e seus descendentes ; na relação de Ala, com os sucessivos impérios islâmicos, desde o século VII d.C; ou na relação do Deus cristão, com os povos europeus e seu projeto de expansão e conversão do mundo, a partir do século XVI. E esta mesma ideia está por trás da certeza norte-americana a respeito do seu “destino manifesto” à liderar a humanidade. Uma visão construída pelos seus “founding fathers”, e que permanece viva até hoje, como se pode ler na epígrafe do presidente Truman; ou na idéia do presidente Kennedy, de que “os EUA deviam seguir em frente para liderar a terra....sabedores de que aqui na Terra a obra de Deus deve, em verdade, ser obra nossa” (op cit p 43); ou ainda, na certeza do presidente Bush, de que “a nação americana foi escolhida por Deus e comissionada pela história para ser um modelo para o mundo” (idem, p:43).

O capital vai para a guerra (e nos arrasta para ela)

Fontes: Rebelião

Uma leitura atenta dos acontecimentos recentes mostra-nos como a guerra na Ucrânia está inevitavelmente a evoluir para um conflito militar aberto entre o Ocidente e a Rússia, com consequências catastróficas e um possível resultado (que já não é tabu) sob a forma de uma guerra nuclear.


Não creio que o catastrofismo sirva algum propósito, nem para mobilizar a classe trabalhadora contra a guerra, nem para contrariar a euforia militarista das elites, mas é difícil estabelecer uma leitura alternativa do que está a acontecer. A diplomacia está enterrada, os canais de diálogo são inexistentes, está em curso uma corrida armamentista que nada mais é do que o prelúdio do desastre iminente. Muitos dos ingredientes que levaram ao grande triturador de carne humana que foi a Primeira Guerra Mundial estão sobre a mesa. Mas seja por entusiasmo militarista ou por ignorância suprema – ou ambos ao mesmo tempo… – os meios de comunicação e os governos ocidentais continuam a transmitir um discurso unidirecional e simplista, baseado no qual tudo o que está a acontecer é explicado exclusivamente por delírios de grandeza de um louco. disposto a destruir o mundo. Análises geopolíticas complexas, quando mais necessárias, não são levadas em conta no estabelecimento das coordenadas que orientam a política externa, nem pelos meios de comunicação, que estão sempre dispostos a explorar a dimensão espetacular da coisa e que consideram o discursivo um absurdo com certa base para ser chata. Tal como em 1914, deslizamos irresistivelmente para o abismo niilista da guerra total, os falcões militaristas ocuparam a centralidade do debate político e parece não haver regresso para evitar o desastre. Tal como em 1914, a esquerda é incapaz de construir um discurso internacionalista coerente e, na melhor das hipóteses, esconde a cabeça na areia; Na pior das hipóteses, apoia ativamente a política de rearmamento e o fortalecimento do bloco imperialista atlantista.

quarta-feira, 27 de março de 2024

O Hamas está intacto, então Israel perdeu?

(Crédito da foto: O Berço)

Seis meses após a inundação de Al-Aqsa, Israel fez poucos progressos na erradicação do Hamas ou das suas capacidades, e a sua guerra em Gaza apenas alimentou e expandiu o apoio à resistência. Tel Aviv calculou mal; você não pode combater a ideologia com armas.

Xavier Villar
thecradle.co/

Seis meses após o início da guerra relâmpago de Israel sobre Gaza, a inteligência militar do estado de ocupação reconheceu relutantemente o que muitos suspeitavam: alcançar uma vitória decisiva sobre o Hamas é um objectivo inatingível. Apesar da retórica inicial de aniquilação total do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, a realidade no terreno fala de forma diferente.

Consumindo Cuba


Por EUGÊNIO BUCCI*
aterraeredonda.com.br/

A tragédia cubana, um tanto melancólica, não se explica pela derrocada das relações de produção, mas pelo esvaziamento das relações de consumo

Frequentadores habituais de Havana reconhecem que a ilha de Fidel Castro enfrenta a sua pior crise. Quase tudo se esvai. Da revolução que tomou o poder em 1959, quando os guerrilheiros de Sierra Maestra marcharam sobre as ruas da capital sob os aplausos de um povo sorridente e esperançoso, resta pouco além de repartições burocráticas, escassez generalizada e gabinetes de vigilância política.