quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Les Echos destaca revolta de produtores de café do Brasil com governo Temer

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Jornal francês Les Echos destaca a crise do café no Brasil.

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"Uma queda de braço inédita acontece no Brasil atualmente entre os produtores de café e os fabricantes de café solúvel", afirma o jornal econômico. No centro da briga, as importações de café robusta autorizadas nesta semana pelo governo, pela primeira vez em décadas. O assunto é chamada de capa do jornal Les Echos desta quinta-feira (23).

Les Echos explica que o Brasil é o país que mais exporta café em grãos, mas também café solúvel. No entanto, a seca que atinge grandes zonas produtoras de café desde 2015 provocou uma forte queda na produção de robusta - uma variedade de qualidade inferior ao arábica, frequentemente utilizado na produção de café solúvel. O governo brasileiro resolveu, então, responder à enorme demanda da indústria do café solúvel, gravemente afetada pela crise na produção, e reduzir drasticamente os impostos sobre a importação do café estrangeiro. Na segunda-feira (20), destacando os grandes prejuízos no mercado do café solúvel, o ministro brasileiro da Agricultura, Blairo Maggi, oficialmente abriu as portas aos grãos estrangeiros e se mostrou decidido a importar um milhão de sacas de café robusta do Vietnã.

"A decisão do governo brasileiro provocou imediatamente uma revolta entre os produtores de café", para quem as importações são uma ameaça. "Por um lado, isso poderia incitar os agricultores a recorrer a outras produções além do café. Por outro lado, muitos ainda guardam na memória o declínio do setor do cacau brasileiro, número três do mundo até os anos 1990", avalia Les Echos. O diário lembra que, nesta época, em uma situação muito similar à que vive o setor do café neste momento, o Brasil abriu suas portas às importações do cacau africano, colocando para escanteio a produção nacional.

Diante da contestação dos produtores de café, que acreditam que a atual produção é suficiente para satisfazer a demanda dos torradores, o governo brasileiro fez meia-volta ontem, indicando que suspenderia, temporariamente, os planos de importações de robusta. "O presidente Michel Temer teria decidido reavaliar a situação, depois de analisar os novos dados sobre a produção desta variedade no país e com o objetivo de satisfazer a demanda interior", ressalta o jornal econômico.

Enquanto isso, publica Les Echos, os mercados estrangeiros não são poupados pela escassez de robusta brasileiro, cuja produção, no ano passado, chegou ao nível mais baixo desde 2004 e poderia ainda cair entre 10% e 20%, segundo as estimativas para 2017. As consequências já começam a aparecer, conclui o diário: "em Londres, os preços do produto aumentaram mais de 50% em apenas um ano".

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