quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O incrível processo de acovardamento dos jornalistas brasileiros. Por Paulo Nogueira

               por : Paulo Nogueira
               http://www.diariodocentrodomundo.com.br/

A obra de Munch retrata o pavor das redações

Os jornalistas brasileiros estão acovardados. Falo dos profissionais, não dos donos.

Isso ficou dramaticamente claro num texto do (bom) colunista da Folha Bernardo Mello Franco.

Franco tratava de Jucá. Mais especificamente, da infame conversa gravada na qual Jucá dizia que era preciso “estancar a sangria”.

Franco dizia, essencialmente, que era mais que tempo de Jucá explicar o que quis dizer com aquelas palavras.

Certo. Mas ao mesmo tempo errado. Completamente errado.

Franco na verdade deveria olhar para o espelho e reconhecer: já é mais que tempo de a mídia cobrar satisfações.

Ele mesmo. Tem uma alta posição em Brasília, a mesma cidade onde vive Jucá.

Por que nunca Franco questionou Jucá? É claro que ele seria atendido pelo senador caso o procurasse. Poderia ser por telefone mesmo.

Mas não.

Os jornalistas estão com medo de fazer perguntas das quais seus patrões podem não gostar.

É esta a lógica para que repórter nenhum tenha perguntado a Moro, por exemplo, se ele não se constrangia em aparecer fraternalmente ao lado de Aécio numa festa.

Moro teve que enfrentar essa questão nos Estados Unidos, depois de uma palestra que fez na universidade Columbia.

E no entanto era a pergunta mais óbvia que qualquer jornalista deveria fazer a Moro depois que a foto amoral veio a público.

O jornalismo combativo morreu. Em seu lugar está o jornalismo medroso, intimidado, acuado.

Os donos das empresas jornalísticas não precisam nem dar ordens para suas redações. Elas se comportam submissamente sem que ninguém tenha que pedir.

Diante desse panorama desolador, palmas para os jornalistas Raymundo Costa e Daniel Rittner, do Valor. Os dois fizeram jornalismo decente numa entrevista com Moreira Franco, e o resultado é que o entrevistado se descontrolou. Não estava preparado para nada que não fosse amigável.

Perguntas duras para autoridades não estão no roteiro dos jornalistas depois da queda de Dilma.

A senadora Gleisi usou uma imagem boa para comparar o comportamento dos senadores na sabatina de Fachin e na de Moraes. Os leões daquela ocasião agiram agora como gatinhos.

Vale para os jornalistas. Os leões da Era Dilma são os gatinhos da Era Temer.

Como involuntariamente mostrou Bernardo Mello Franco, sequer ocorre a eles a possibilidade de colocar os entrevistados contra a parede.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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