sábado, 28 de outubro de 2017

Washington proíbe a Sérvia de desminar a Síria – Notícias como esta são silenciadas pelos jornais corporativos

    por Daniel McAdams

Este pode ser um dos mais cruéis e mais cínicos movimentos de Washington em todo o negro capítulo da sua "mudança de regime na Síria". Media sérvios informaram, com base em palavras de pessoal da Embaixada dos EUA em Belgrado, que os Estados Unidos pediram garantias ao governo e aos militares da Sérvia de que peritos sérvios em desminagem não serão deslocados para a Síria a fim de apoiar a remoção das horrendas minas e outros dispositivos espalhados por toda a parte que foram deixados para trás pelo ISIS ao retirar-se.

Como a derrota das forças do ISIS prossegue na Síria, a população civil começa a retornar aos seus lares e às suas vidas que haviam sido interrompidas pelos Estado Islâmico, a al-Qaeda e outros grupos extremistas. Segundo as Nações Unidas, mais de 600 mil sírios retornaram para área libertadas pelo governo da Síria com a assistência da Rússia e de forças iranianas. 
Mas é nesse momento que muitas vezes começam problemas trágicos. Como The Economist informou no princípio deste ano, a alegria de retornar a uma vida onde o flagelo do ISIS foi eliminado pode ser interrompida num instante pelo que o ISIS deixou atrás de si: 

"A primeira explosão matou nosso vizinho e a sua cunhada ao entrarem na sua casa", disse Ali Hussain Omari , antigo combatente da cidade. "Três dias depois outra mina matou meu primo. Sua filha de 11 anos teve a perna amputada e sua casa foi destruída. Uma semana depois explodiu outra mina numa oliveira. Meu vizinho perdeu a perna". 

Que horrível ironia ter sobrevivido à pilhagem dos jihadistas só para ser explodido em bocados pelos instrumentos de terror que eles abandonaram. 

Por isso é preocupante que o governo dos Estados Unidos se oponha de modo tão intransigente a que peritos sérvios em desminagem treinados pelos EUA sejam deslocados para a Síria a fim de ajudar a tornar o país pós-ISIS seguro para o retorno de civis. 

A "querela" entre o embaixador dos EUA em Belgrado, Kyle Scott , e o ministro da Defesa, Aleksandar Vulin , começou quando o lado sérvio anunciou que participaria nos esforços de desminagem na Síria de um modo em que haveria forças sérvias a coordenarem-se com os russos. Os americanos recordaram ao seu aliado sérvio, através do porta-voz da Embaixada dos EUA, Eric Heyden , que:

... o governo dos EUA proporcionou doações significativas em dinheiro, equipamento e treino a fim de ajudar o Exército Sérvio a livrar-se das minas que restaram da guerra e assim fazer da Sérvia um lugar mais seguro. Ou seja, ao longo dos últimos 15 anos proporcionámos mais de US$20 milhões em ajuda para operações de limpeza de minas na Sérvia. Durante o nosso último exercício militar conjunto, em Abril de 2017, o governo dos EUA doou cerca de US$450 mil em equipamento médico e de desminagem ao Exército Sérvio a fim de melhorar suas capacidades...

Por outras palavras: "nós financiamos vosso treino em operações de desminagem e se quiserem continuar a receber dinheiro dos Estados Unidos é melhor cancelarem vossos planos para apoiar a desminagem na Síria". 

As preocupações de Washington acerca da participação sérvia na desminagem da Síria, segundo informações da imprensa, foram atendidas por Belgrado. Heyden anunciou pormenores:

Informações de media da Rússia declararam que peritos em desminagem da Sérvia seriam deslocados para junto de forças russas na Síria. Nos últimos seis meses, nas nossas numerosas conversações com a liderança do Ministério da Defesa e o Estado Maior, o governo dos EUA recebeu múltiplas garantias de que esta estória é incorrecta e que o objectivo do nosso treino bilateral era capacitar membros do Exército Sérvio a limpar a área do antigo aeroporto militar em Sjenica e abri-lo para utilização...

Uma vez estabelecido isto, os EUA anunciaram que "têm planos para no próximo ano continuar a ajudar a desenvolver a capacidade do Exército Sérvio neste projecto". 

E as vítimas sírias do ISIS e de outras minas extremistas (provavelmente apoiados pelos EUA) que continuam a morrer e mutilar civis inocentes e crianças? É uma pena para eles. Mais inocentes morrerão em nome da actual psicose da Guerra Fria 2.0. 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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