sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Entenda como suspensão de Del Nero pela Fifa pode implodir a CBF

Del Nero adota na CBF Árbitro de Vídeo no Brasileirão
A Fifa baniu Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, de todas atividades do futebol por 90 dias, com possibilidade de se estender por mais 45 dias. Comitê de Ética Independente da entidade anunciou a decisão nesta manhã de sexta-feira (14/12) após uma investigação que se arrasta desde 2015. Del Nero deixa a presidência da CBF e no seu lugar assume o paraense Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, vice-presidente mais velho da confederação nacional.

Mesmo que o banimento por meio da Fifa seja provisório, a saída de Del Nero do futebol pode ser definitiva. Pesa contra o dirigente as denúncias no julgamento de José Maria Marin e mais dois cartolas do futebol sul-americano na Corte de Brooklyn nos Estados Unidos, onde o atual presidente da CBF foi acusado de receber propinas de 6,5 milhões de dólares nos contratos de direitos de transmissão e marketing de campeonatos no Brasil e América do Sul.
Como Del Nero não arreda pé do Brasil desde 2015, portanto não pode ser preso pela Justiça americana, e não há em curso uma investigação no país contra o dirigente, a decisão da Fifa se torna nesse momento o único meio para Del Nero ser banido do futebol.
Não por acaso, o dirigente armava nos bastidores da CBF, desde novembro, um plano para convocar nova eleição na entidade em abril de 2018, um jeito de continuar no poder para mais um mandato até 2023 e, por tabela, tentar uma nova reeleição, com mandato até 2027.
Apoiado por presidentes das 27 federações estaduais e boa parte dos 40 clubes (Séries A e B do Brasileirão), seu mandato atual terminaria apenas em abril de 2019.
Fora de cena, banido pela Fifa, seu poder de manobra diminui entre os cartolas do brasileiro. A estrutura da CBF, que tem o politico Walter Feldman na secretaria-geral, pode ruir se os clubes iniciarem um movimento contra o atual comando.
Del Nero foi alvo de uma CPI no Senado, encabeçada pelo senador e ex-jogador Romário, que foi abafada por ação da Bancada da Bola, parlamentares que defendem interesses de dirigentes de futebol – entre eles, Romero Jucá e Zezé Perrella.
É hora de iniciarmos uma campanha por eleições diretas na CBF, ampliando o colégio eleitoral para além das federações, clubes de todas as séries e atletas também precisam ter direito. Hoje a eleição é uma fraude, cartolas corruptos se mantêm no poder na base da compra de votos.
Entenda o caso Del Nero
Del Nero foi indiciado dezembro de 2015 pelo departamento de Justiça dos EUA por nada mais nada menos sete crimes – três de fraude, três de lavagem de dinheiro e mais um por integrar uma organização criminosa. Assim que os federais americanos confirmaram o iniciamento do dirigente brasileiro, o Comitê de Ética da Fifa abriu uma investigação interna e não deu celeridade ao processo. Mas quando o julgamento do Fifagate começou em Nova York, em novembro, a casa de Del Nero sofreu um abalo considerável. Todas as citações a Del Nero foram enviadas à Fifa e à justiça de Zurique.
A situação de Del Nero se complicou com o julgamento de Marin, ex-presidente da CBF, que é julgado junto com o ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Juan Angel Napout, e o ex-chefe do futebol peruano Manuel Burga. Os três são os únicos dos 42 acusados no escândalo de corrupção na Fifa que estão nos Estados Unidos e se declaram inocentes.
Marin e Del Nero, antigos companheiros de cartolagem no futebol brasileiro – foto: CBF

O julgamento
O ex-presidente da CBF entre 2012 e 2015 é acusado de sete crimes: três de fraude, três de lavagem de dinheiro e por integrar uma organização criminosa. O governo americano afirma que Marin negociou para receber 6,55 milhões de dólares em propinas relacionadas à concessão dos direitos de transmissão da Copa América, Copa do Brasil e Libertadores.
Mas seu advogado, Charles Stillman, insistiu que não há provas para condenar o ex-dirigente brasileiro.
“Marin estava em campo, mas não jogou”, declarou Stillman ao júri.
“Com todo o respeito, Marin era o monarca que fazia os brindes, enquanto Marco Polo (Del Nero) comandava tudo”, acusou Stillman, referindo se ao atual presidente da CBF e que na época era o vice de Marin. Em março de 2012, Ricardo Teixeira, presidente da CBF por mais de duas décadas, anunciou sua renúncia de maneira surpreendente, pressionado pelas denúncias de corrupção.
Del Nero era visto como sucessor natural, mas quem assumiu a presidência foi Marin devido à regra interna da CBF, que outorga o cargo ao vice-presidente de maior idade da entidade.
O governo americano afirmou que, após a renúncia de Teixeira, Marin e Del Nero passaram a dividir entre eles as propinas e que as menções “Brasileiro” ou “MPM” nas contas das empresas que pagavam subornos em troca de contratos eram referências a ambos.
Stillman não comentou as gravações secretas usadas como prova pela promotoria, nas quais Marin conversa sobre subornos pelos direitos de transmissão da Copa do Brasil e da Copa América com o empresário brasileiro J. Hawilla.
O advogado, porém, afirmou que se seu cliente tivesse algo a esconder, não teria recebido propinas em contas em seu nome nos Estados Unidos.

Confira a nota da Fifa sobre a punição a Del Nero:
O dirigente Marco Polo Del Nero foi banido de todas as atividades relacionadas a futebol por 90 dias pelo Comitê de Ética independente da Fifa.
O responsável pela câmara de julgamentos do Comitê de Ética baniu provisoriamente o presidente da CBF, Sr. Marco Polo Del Nero, por um período de 90 dias. A duração do banimento pode ser ampliada para um período adicional, desde que não exceda 45 dias
Durante este período, Marco Polo Del Nero está banido de todas as atividades relacionadas ao futebol tanto em nível nacional quanto internacional. A punição passa a valer imediatamente.
A decisão foi tomada após pedido do Comitê de Ética por investigações sobre o Sr. Del Nero, em respeito aos artigos 83, parágrafo 1, e 84, parágrafo 2, do Código de Ética da Fifa.

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