sábado, 14 de abril de 2018

Sai Lula, entram as fardas

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Leandro Demori

Lula está preso. O ex-presidente foi encarcerado em uma prédio da Polícia Federal depois de 48 horas de uma espécie de auto-exílio no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, onde começou sua carreira política. Só saiu de lá depois de negociar com a PF, desobedecer o prazo dado pela Justiça e discursar e uma missa em homenagem à sua falecida mulher, que faria aniversário naque mesmo dia.

Boa parte da esquerda quer Lula solto, ao menos provisoriamente. Difícil. Se o processo pelo qual ele foi condenado é fraco para uma pena tão dura, há ainda muitos outros correndo na Justiça, talvez mais robustos que esse. É difícil acreditar que o ex-presidente tenha passado 8 anos no Planalto sem enfiar o pé no barro. Lula tem 72 anos. Deve passar o resto de seus dias metido em tribunais.

O que será do Brasil sem ele em campo? As chances da esquerda brasileira minguaram. O PT não oferece um sucessor natural. O partido despejou toda a energia para ver Lula livre, pareceu jamais considerar a hipótese de ter que construir outra candidatura. 

Os perigos passam agora pelos fuzis.

O crescimento do Exército no debate público é evidente. Silenciosos desde o fim da ditadura militar, os generais foram jogados na arena por Michel Temer e sua nano-popularidade. Ele usou a situação falimentar da segurança pública no Rio de Janeiro para ocupar a cidade militarmente. Chamados, os generais atenderam, e começaram a falar. Por enquanto, no Twitter.

Para além de ocuparem ministérios, secretarias e cargos de confiança – como se fosse uma versão pós-moderna do golpe militar –, há ainda outro modo de o Exército chegar ao poder: Jair Bolsonaro.

Estamos ignorando que agora, sem Lula, quem lidera as pesquisas eleitorais é o capitão? Há quem aposte que ele vai derreter no futuro, mas o tempo presente é de Bolsonaro. Se eleito, irá empoleirar fardados na máquina pública.

Bolsonaro está há quase três décadas no Congresso e só aprovou duas leis. É um inepto, mas bom de discurso: promete “acabar com os bandidos”, “prender todos os corruptos”, armar a população e restaurar um fantasioso tempo de “lei e ordem” que teria existido durante a ditadura militar. E sabemos: odeia gays, negros, minorias, já defendeu torturadores e assassinos. É o pacote completo da doença que se alastra travestida de cura.

Bolsonaro e Lula não são comparáveis, mas se parecem muito em um ponto crucial da real politik, algo que nenhum outro candidato têm neste momento. O capitão oferece o que Lula ofereceu por muitos anos: uma visão consistente de futuro a quem se dispuser a acreditar nela, com ações práticas (mesmo que estapafúrdias), com promessas palpáveis (mesmo que enganadoras), com inimigos visíveis (mesmo que injustiçados), com o tanto de sonho que alguém se permite sonhar. Um futuro aos que acreditam estupidamente que uma ditadura será ditadura só com “os outros”, e que limitará seus poderes de algum modo apenas “contra os bandidos”.

Com Bolsonaro, no entanto, diferentemente do que houve com Lula e seus anos de bonança econômica e social – apesar das inúmeras críticas a seus governos –, o sonho é pirata; os delírios de Bolsonaro são pesadelos evidentes, um mundo distópico com tons ditatoriais que empurraria o Brasil para a lata de lixo da história mais uma vez. Com a esquerda em pedaços e a direita moderada sem alternativas aparentes, a distopia está à espreita na próxima esquina.

Editor Executivo

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