quinta-feira, 10 de maio de 2018

Xeque: Elevador do triplex existe e a empresa que emitiu nota pela instalação também


Há várias maneiras de apontar os malabarismos praticados pela República de Curitiba no caso Triplex. Mas procurar uma fornecedora da reforma no Google, encontrar dados inconclusivos e deixar de investigar a fundo - dando margem a mais uma fake news - não é uma delas


Jornal GGN - É fake news a história de que o triplex do Guarujá, que a Lava Jato atribuiu a Lula como um presente da OAS, não possui um elevador contratado no pacote da reforma ao custo final de mais de R$ 100 mil, segundo um laudo da Polícia Federal de 2016.

Trecho do laudo pericial da PF sobre o triplex, concluído em março de 2016. Acesse aqui.

Alguns vídeos divulgados nas redes sociais após a ocupação do apartamento pelo MTST, de fato, não mostram o equipamento. Mas isso não significa que o elevador é fictício.

O UOL também divulgou um vídeo (assista aqui), em abril de 2018, mostrando o interior do triplex levado a leilão por R$ 2,2 milhões. Nele, é possível constatar que o elevador foi instalado.

Em 2016, os agentes federais que vistoriaram o imóvel anotaram que o elevador não só estava instalado como vinha sendo deteriorado pela ação de uma goteira no teto, fruto de problemas de infiltração espalhados pelo triplex.

Pacificado este ponto, passemos a outra fake news: o boato de que a empresa que instalou o elevador "pode nunca ter existido" ou emitido notas frias.

Segundo os autos do caso triplex, quem fez a instalação do elevador foi a empresa TNG Elevadores LTDA.

Na internet, as informações sobre a empresa são escassas. Encontra-se apenas CNPJ, endereço desatualizado, o nome do casal proprietário e o contato é um número de telefone e um e-mail que pertence ao escritório que confirmou ao GGN prestar serviço contábil à TNG.

Blogueiros que levantaram suspeitas sobre a existência da TNG Elevadores certamente não se esforçaram para encontrar a empresa pelos contatos indicados. O GGN conseguiu falar, por telefone, com um dos representantes legais. Foi a primeira vez que a empresa foi procurada por uma jornalista após a onda de boataria, informou. 

A redação levantou que a TNG Elevadores, que atua em São Paulo desde 2012 (embora seu CNPJ exista desde 2005), é uma espécie de concessionária da GMV Latino América Elevadores. Esta, por sua vez, é uma multinacional italiana que fabrica elevadores privativos e revende no Brasil através de seus representantes. Ela também aparece nos documentos do caso triplex.

Com mais de 25 anos de experiência no Brasil, a GMV, que já havia feito outros projetos junto à Tallento (empresa contratada pela OAS para a reforma do triplex), acabou sendo acionada para fornecer o equipamento que iria para o imóvel no Guarujá.

A contratação da TNG para fazer a instalação foi praticamente automática, tendo em vista que a concessionária é a responsável por realizar o atendimento de qualquer cliente da GMV no litoral paulista.

A conversa de cerca de 40 minutos com o representante legal da TNG (que pediu para ter a identidade preservada por conta dos ataques que vem sofrendo em decorrência das fake news) lançou luz sobre as notas fiscais e documentos do elevador.

A instalação do equipamento teria custado cerca de R$ 14 mil, em 2014. Isso é levado aos autos do processo por meio da anotação de responsabilidade técnica (ART) assinada entre o engenheiro Peterson do Couto (ex-colaborador da TNG) e a OAS Empreendimentos, que era o "cliente final", ou seja, a dona do imóvel. Essa ATR aparece no laudo da PF, de 2016.

Na sentença, o juiz Sergio Moro diz que uma nota fiscal emitida pela Tallento em face da OAS mostra que a instalação do elevador custou, no total, R$ 21 mil. Nesse valor, além dos R$ 14 mil da instalação, está incluso também uma diferença de R$ 7 mil referente à "manutenção preventiva" do equipamento.

Esta manutenção, segundo o representante da TNG, deveria ter sido feita 2 meses após a instalação, fato que não ocorreu porque a Lava Jato interditou o apartamento.

Possivelmente, é por conta do bloqueio ao triplex, disse o representante, que o apartamento aparentemente encontra-se "vazio" e muita gente acredita que não houve reforma alguma. A fonte lembrou que muito do projeto contratado da Tallento pode não ter sido entregue ou executado por conta interdição da Lava Jato. 

Ainda de acordo com a sentença de Moro, existe uma outra nota fiscal provando que o custo da compra do elevador foi de R$ 47,7 mil.

Ao GGN, a TNG revelou que "foi um elevador bem simples, o instalado, por opção da construtora. Não sei se foi por uma questão de custo, mas aquele era o equipamento mais em conta que a gente tinha e com o menor prazo, porque já tinha ele aqui no Brasil." 

A reforma no triplex foi contratada pela OAS à Tallento para ser executado em até 3 meses, entre julho e setembro. O elevador foi instalado depois, entre outubro e novembro.

Como, na prática, a Tallento comprou o elevador da TNG e depois revendeu à OAS, o preço pode ter chegado àquele aferido em documentos pela Polícia Federal: R$ 104 mil. A Tallento deve ter "agregado valor" cobrando outros custos operacionais, como transporte e içamento de materiais.

EMPRESA FICTÍCIA?

A TNG, segundo o representante, opera em São Paulo com apenas 2 funcionários e está migrando para um espaço na Vila Anastacia. O endereço situado à Rua Tito Batista, fácil de ser encontrado na internet e utilizado por blogueiros para aventar que trata-se de empresa fantasma, está desatualizado.

De acordo com o representante, a empresa não dispõe de site institucional próprio porque atua num segmento de mercado muito nichado, oferecendo instalação de elevadores residenciais para imóveis de alto padrão e, até então, não via a necessidade de fazer "divulgação de massa". Além disso, vem colhendo frutos a partir do marketing da GMV, que é a porta de entrada dos clientes.

Mais estruturada - e com um corpo jurídico que pode ser acionado contra quem propaga fake news, diz o representante - a multinacional italiana está fixada em Curitiba desde o final dos anos 1990. Foi contratada pela Tallento por ser referência no mercado, e não porque coincidentemente está situada na cidade de Moro.

O GGN já mostrou nessa reportagem aqui que outros custos da reforma do triplex foram tratados em relatório da Federal como "discrepantes" em relação ao que se observa no espaço.

No final das contas, o emaranhado de acusações feitas pelo Ministério Público contra Lula foi alterado por Sergio Moro na sentença, que não condenou Lula pelo triplex de R$ 2,4 milhões, mas por um suposto caixa geral de propina entre o PT e a OAS, no total de R$ 16 milhões. 

Foi com base nesse valor, muito superior ao triplex, que os bens de Lula foram bloqueados.

Há várias maneiras de apontar os malabarismos praticados pela República de Curitiba no caso Triplex. Mas procurar uma fornecedora da reforma no Google, encontrar dados inconclusivos e deixar de investigar a fundo - dando margem a mais uma fake news - não é uma delas.

Xeque!

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